ENTREVISTA: Liliane Roriz fala sobre resgate de Brasília

Liliane avalia a relação da Câmara Legislativa com o Governo de Brasília e afirma que é preciso unir forças para que a cidade consiga passar por essa atual situação de crise financeira. Define como a principal meta do seu mandato as ferrovias Luziânia-Brasília e Brasília-Goiânia. Liliane fala abertamente que pretende prosseguir com aquilo que Joaquim Roriz iniciou quando foi governador de Brasília, e se vê como a renovação da imagem do pai.

Foto: Daniel Cardoso.

Qual o balanço que a senhora faz dos primeiros meses deste mandato em frente à Câmara Legislativa?
Eu sou uma pessoa muito otimista, acho que aprendi isso com o meu pai (Joaquim Roriz). Ele sempre nos ensinou a acreditar no dia de amanhã e que as coisas podem ser melhores. Eu tenho motivo para comemorar, porque eu lutei pela cidade, cobrei do governador (Rodrigo Rollemberg). O primeiro pacote de janeiro foi bem complicado, mas nós estivemos presente ao lado dele. Posteriormente, ele enviou o outro pacote de venda das estatais (como CEB, CAESB, BRB) e eu fui a primeira pessoa da Câmara Legislativa a ir contra essas medidas. Mas o governador teve bom senso e retirou o projeto da Casa. Também derrubamos alguns vetos, e nesse segundo semestre tenho a perspectiva de derrubar o veto sobre a PL do ICMS dos remédios genéricos. Brasília está passando uma crise financeira, mas esse projeto estava dentro do pacote dele. Então, achei que foi uma contradição muito grande ele vetar um projeto que ele mesmo havia enviado para a Câmara. Embora muita gente ache que é institucional, eu não entendi desta forma, já que o próprio Executivo enviou esse projeto.

Como a senhora vê a relação entre a Câmara Legislativa do Distrito Federal e o Governo de Brasília?
Veja, nós estamos passando uma situação inédita no Distrito Federal. Nunca na história dessa cidade aconteceu isso (crise financeira). Então, eu acho que é compreensível que os deputados tentem ajudar o governo, e não digo nem o governador, mas a cidade, embora tenham aqueles que são oposicionistas declarados, aqueles independentes e os que são da base. Agora é um momento difícil que a cidade atravessa, e é importante que se juntem todas as forças políticas para atravessarmos essa fase.

Quais são as principais metas para o seu mandato?
Eu quero, diante desse desafio, colocar Brasília na legalidade, pois acho isso muito importante. É preciso evitar novas invasões. Assim, quero adequar a cidade à legalidade e buscar o seu desenvolvimento. Outra grande meta do meu mandato é a questão das ferrovias Luziânia-Brasília e Brasília-Goiânia. Isso foi um sonho do meu pai quanto governador. Nós somos dessa região, então sabemos a dificuldade com que as pessoas, principalmente as que moram em Luziânia e que trabalham em Brasília, ou de cidades próximas como Valparaíso, Novo Gama, a Cidade Ocidental, Jardim Ingá. Então, nada mais justo do que a gente acolher as pessoas que trabalham, que são grande parte da mão de obra do Distrito Federal e que trazem recursos. Temos que resolver essa questão da mobilidade dessa região. Então, eu fui atrás. Eu vi que havia alguns estudos, que é bom lembrar também que o Marcelo Dourado (hoje diretor do metrô) foi, inclusive, um dos grandes sonhadores dessas ferrovias. Por que não ir atrás? Por que o Governo Federal não teria interesse, uma vez que já existe uma ferrovia que só passa carga? Por que não utilizá-la para transportar pessoas? Então, foi uma coisa que foi acontecendo e tive um encontro com o governador de Goiás (Marconi Perillo) e com o do Distrito Federal. Abriram uma licitação, o edital, no último dia 17 (de setembro), então temos uma possibilidade grande de termos uma empresa internacional que se interesse no projeto. Enfim, eu fiz o trabalho de unir os interesses e percebi que, pela atual crise financeira do Brasil, nada melhor do que um investimento de fora. E agora dia 30 de outubro, vai ser lançado o edital de Brasília-Goiânia. Então, esse é o maior desafio do meu mandato.

Deputada, a senhora no começo da sua resposta falou sobre as invasões. Qual sua perspectiva sobre o tema?
As invasões são uma ilegalidade. As pessoas acham que tem que vir pra Brasília e se instalar em qualquer lugar. E mais, tem os que vendem, que são os grileiros, e que agem de má-fé com as pessoas que não têm onde morar. O sujeito vende aquele lote por qualquer valor, e aquela pessoa que comprou fica no desespero, na esperança que o governo um dia irá legalizar aquela área. Porque, claro que há pessoas que agem de má-fé na hora da compra, mas tem muita gente que não, que é por falta de informação. Tem que ponderar, aquilo que não for possível de legalidade, que já foi determinado pela Justiça de que é para derrubar, então tem de ser feito. Mas aquilo que é passível de ser regularizado, não precisa derrubar. Porque depois o governo derruba, mas e ai? Vai transformar aquela área em quê? A cidade está ficando em pânico com isso. As pessoas ficam desesperadas, ela empregou seu dinheiro ali. Então, vamos esperar um pouco para determinar onde é ou não ilegal. Fui atrás da UnB, de arquitetos, para ver o que é possível ser feito. Porque a cidade está aí. Brasília foi projetada para ter 500 mil habitantes e isso não existe, não é mais isso. Brasília tem de entender que muitos locais são irregulares, que não possui o Habite-se, como o próprio Palácio do Planalto não tem, portanto, é ilegal, né? Não tem Habite-se, logo é irregular.

O fato de o governador ter vetado algumas PL de sua autoria a incomodou?
Fiquei profundamente chateada. Na ocasião eu me queixei, liguei para algumas pessoas próximas a mim, disse que ele poderia ter me ligado, ter conversado, que tivesse tido um gesto educado comigo. Mas não gostaria de colocar isso como uma tentativa de pressão no governador: ‘ah, você não vai fazer isso, então eu não voto nisso’, ou ‘se ele tivesse me ligado antes e dissesse, ai eu não estaria contrariada’. Não. Isso está dentro de um projeto dele que foi enviado para a Câmara Legislativa, e tive um entendimento com ele de que isso era importante para a cidade, mesmo considerando a atual situação financeira do Distrito Federal que está muito ruim. Mas assim, a equipe dele considerou que dessa forma teria que vetar o meu projeto, então claro, eu vou conversar com os meus colegas para a gente derrubar esse veto.

A senhora é contra ou a favor à reeleição para o cargo de presidente da Câmara Legislativa num mesmo mandato?
Eu entendo que a lei, o regimento interno, estão lá. E foi posto dessa maneira. Então eu tenho que entender que a gente tem de seguir aquilo que foi acordado. Não pode ter reeleição. Eu acho que nós temos que dar oportunidade para outras pessoas terem esse cargo de presidente, enfim. Deve-se manter o que está estabelecido.

A senhora acredita ser a renovação do que o seu pai representou no passado?
Olha, onde eu vou, todo mundo reconhece e sabe o valor do Roriz. Eu tenho orgulho de ser filha dele, pois eu acho que ele foi um homem sempre a frente do tempo dele. Eu acredito sim ser essa renovação, porque na época dele, ele se preocupou, naquele momento, em tirar as favelas do centro de Brasília e construir as cidades para que as pessoas pudessem ter onde morar. E, inevitavelmente, naquela época, ele tinha que fazer isso. E esse programa de moradia serviu de exemplo para outros estados. Mas sim, acho que é importante prosseguir com projetos do meu pai, então sim, eu sou essa renovação. Mas certamente, nós temos que pensar Brasília de outra forma. E o que a gente mais vê que as pessoas sentem necessidade real, é de saúde. Então nós temos que construir mais hospitais, trazer mais médicos para a capital, porque os que nós temos não são o suficiente para atender a demanda. A gente tem que focar um pouco na área da saúde que sempre foi um problema e o governo de Goiás tem que assumir o seu papel de construir hospitais, tem que ter responsabilidade com isso. Outra coisa é a questão do transporte, que é algo que temos que estar pensando na frente.

Então podemos pensar a Liliane Roriz concorrendo à vaga de governador no futuro?
Esse é um desafio e é uma missão muito grande. Eu prefiro ouvir das pessoas se esse é um desejo delas também. Porque não adianta eu querer se a população não quiser. Assim, eu fui criada no meio político, um pai e uma mãe que dedicaram a vida ao povo, a gente não sabe fazer outra coisa. Acreditar que a gente pode mudar a vida das pessoas. E a política tem que ser feita assim, né? Política tem que priorizar as pessoas, aquilo que meu pai fala: ‘definir prioridades depois de ouvir o povo’. Essa frase é eterna, é atemporal.

E como está a saúde do ex-governador Joaquim Roriz?
Eu conto sobre as coisas que aconteceram. E eu sinto que ele tem vontade, queria ter saúde para poder trabalhar pela cidade ainda. É o desejo dele. Ele vê que não pode fazer muita coisa porque está impossibilitado. Mesmo doente, ele continua preocupado com as pessoas. É difícil, pois fazer hemodiálise desgasta muito, e precisa ficar preso à máquina. Mas ele passa bem.


Fonte: Redação.

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